O que esperar do mercado do Transporte Rodoviário de cargas em 2021?
Hoje, segundo dados oficiais, cerca de 60% de todo o movimento de pessoas e mercadorias no Brasil é feito por meio de transporte rodoviário. É por isso que, segundo o Banco Mundial, o país tem a quarta maior infraestrutura de estradas do mundo – atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Índia. São mais de 1,5 milhão de quilômetros de rodovias por onde passam mais da metade (56%) das cargas nacionais. Tudo isso sendo levado por 1,2 milhão de caminhoneiros registrados na Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT).
Todos esses dados entregam mais robustez ao que já é um consenso entre economistas, órgãos reguladores e mesmo dentro do setor: o desempenho das empresas de transporte é um dos melhores termômetros da economia brasileira. Isso porque são elas que possibilitam o movimento cada vez mais intenso de mercadorias, o escoamento das safras nacionais, boa parte da logística de exportações e a circulação de pessoas entre cidades e estados do país.
Como foi 2020 para o transporte rodoviário?
A ideia de que o transporte é o termômetro da economia brasileira ganha vigor quando se analisa os resultados do setor em comparação com outras atividades econômicas: o pior momento para as empresas foi, certamente, o segundo trimestre, segundo o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado de Santa Catarina (Fetransesc), Ari Rabaiolli. “As nossas quedas de faturamento mais substanciais foram entre abril e maio, com resultados um pouco melhores em junho”.
Isso se explica, principalmente, pelo fato de ter sido o pior momento do PIB brasileiro: queda de 9,7% no segundo trimestre, segundo o IBGE. No período seguinte (julho, agosto e setembro), ao contrário, o Produto Interno Bruto se recuperou e fechou em 7,7%. Da mesma forma, foi quando setor de transporte e logística se recuperou.
Para Rabaiolli, duas explicações podem ser dadas para o fenômeno: o auxílio emergencial do governo federal, de R$ 600 e depois de R$ 300, e a restrição de viagens internacionais.
“O auxílio permitiu que as pessoas continuassem consumindo em meio à crise”, explica ele. “Já a impossibilidade de viajar para fora fez com que esses consumidores – que gastam cerca de R$ 2,5 bilhões por ano no exterior, segundo as operadoras de cartão de crédito – direcionassem esse consumo para o mercado nacional. Com isso, essa demanda fez com que toda a cadeia produtiva e o comércio conseguissem passar melhor pela pandemia e, para nós, que fosse um período de recordes de faturamento”, continua.
O e-commerce também ajudou nesse cenário, sem dúvida. Dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) mostram que só o comércio eletrônico paulista – o principal centro comercial do país – registrou 32% no faturamento real em relação a 2019 – um crescimento que, em números absolutos, é da ordem de R$ 7 bilhões a mais nas receitas. A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), por sua vez, publicou um relatório em setembro mostrando que, de abril até aquele momento, 11,5 milhões de pessoas tinham feito sua primeira compra online. No mesmo período, 150 mil novas lojas começaram a operar na Internet.
Mais gente consumindo pelos marketplaces significa, na maioria dos casos, mais necessidade de produtos em movimento pelos estados, regiões metropolitanas e cidades do país, cujos impactos foram significativos para os empresários do transporte.
Dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística corroboram as análises: durante 20 semanas, a variação no volume transportado pelo Transporte Rodoviário de Carga fracionada (TRCf) caiu 26 pontos, chegando a 22 pontos no segundo trimestre.
Assim como os trabalhadores da saúde, os supermercados e a segurança pública, no entanto, os caminhões não puderam ficar parados no auge da crise: com 40% a menos de carga para transportar, as empresas do setor se preocupavam com o cumprimento dos prazos, o pagamento dos custos fixos, o custo do retorno vazio (quanto apenas a ida ao destino é remunerada), os problemas no fluxo de caixa, o aumento da inadimplência dos consumidores e o esgotamento da capacidade de muitos terminais pelo país.
Segundo a entidade, nove em cada dez (90%) empresas do setor de transporte foram impactadas pela pandemia de covid-19 no Brasil em 2020.
O que o transporte rodoviário pode esperar de 2021?
A alta projeção do PIB, o cenário ainda de juros baixos, a expectativa em torno da vacina contra a covid-19 e o consequente afrouxamento das medidas de isolamento social, o crescimento do e-commerce e de atividades do varejo físico, como supermercados e lojas de materiais de construção, além do baixo impacto que a pandemia teve sobre o agronegócio brasileiro – o pilar da economia nacional hoje – servem de alento para os empresários de transportadoras como um todo.
O que temos ouvido de muitos deles é que o primeiro trimestre de 2021 servirá como um “termômetro do termômetro”. Isto é: os resultados do transporte no período vão ser bons indicadores de como a economia do país se comportará ao longo do ano. “A expectativa é das melhores, principalmente porque temos projeções de safras recordes do agronegócio para este ano”, diz Antonio Ruyz, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Oeste do Paraná (Sintropar).
De fato, as previsões para o agronegócio são ainda melhores neste ano: o PIB Agro tem projeção de crescer 4,2%, com um Valor Bruto de Exportação (VBP) chegando à casa dos R$ 900 bilhões. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que a safra de grãos bata recorde de 265 milhões de toneladas na temporada 2020/2021 – 3,5% a mais que na anterior. Tudo isso em uma expansão de 1,6% de área plantada, o que indica também uma melhora na produtividade do agro brasileiro.
Por tudo isso, a expectativa de melhora parece superar, neste momento, as incertezas do setor. Mais produção, demanda, exportações e aquecimento do mercado interno significam mais necessidade de logística – em todos os seus modelos e em diferentes estratégias. “A gente está, de fato, esperando uma recuperação muito forte em 2021. Já tivemos uma no terceiro trimestre do ano passado e, com o agro, que não sentiu tanto, a expectativa é seguir assim”, conta Marcos Egídio Battistella, do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar).
Mas não é somente o agronegócio que permite ao setor esperar um 2021 melhor: o crescimento da construção civil também deve aquecer a economia brasileira neste ano, com impactos positivos sobre as empresas de logística. No Rio Grande do Sul, por exemplo, são as obras nas principais cidades do Estado que puxam a previsão de crescimento de 4% em 2021, segundo a Federação das Indústrias local.
O dado anima o ex-presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), João Jorge Couto, para quem a safra recorde de grãos, o aquecimento do mercado imobiliário e a taxa de juros baixos são cenários fortes de que o ano de 2021 será de retomada para alguns setores – como o consumo – e de expansão para outros, como o agro. Ele, assim como os outros presidentes de sindicatos da região, está otimista. “A previsão do transporte gaúcho é de crescimento”, conta ele.
Assim, por tudo o que o setor de transporte passou em 2020 e pelos primeiros sinais deste novo ano, as expectativas estão positivas. Mesmo com a alta do dólar, o aumento dos preços de produtos e, no caso das empresas de logística, dificuldades como a inflação de veículos e até peças automotoras, a dificuldade em encontrar mão-de-obra qualificada e as péssimas condições da infraestrutura rodoviária brasileira – tanto no sentido viário quanto no da criminalidade, por exemplo –, os prognósticos para a economia do país sustentam o otimismo.
Apesar das adversidades da pandemia, progredir sempre foi o ponto forte no setor de transporte rodoviário de cargas, é o que avalia o consultor Adriano Basso, diretor de relacionamento da Funcional Consultoria e atuante no segmento de transporte rodoviário de cargas há mais de 15 anos. Segundo ele, 2021 tem um direcionamento muito claro. “Geração de empregos diretos e indiretos, qualificação de pessoas, novas formas de comercialização e negociação, automação de processos e investimento na renovação e no aumento da frota compõem a estratégia de grande parte das transportadoras. E para seguir nesta direção a Funcional Consultoria está conectada ao setor para alcançar excelentes resultados”, finaliza.
Escrito por Márcio Folle, supervisor comercial da Funcional Consultoria.
Fonte: Funcional Consultoria