Palavra do Presidente: Dia da Consciência Negra
O ano de 2020 ainda não terminou, mas já podemos dizer, sem medo de errar, que entrará para a História por, pelo menos, dois motivos: primeiro, a humanidade se viu diante do desafio de enfrentar a maior pandemia jamais vista em um século; depois, vimos surgir uma enorme onda de indignação e protestos contra o racismo em todo mundo a partir do covarde assassinato do cidadão negro George Floyd por um policial branco, na cidade de Mineápolis, nos EUA.
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, em que celebramos a memória e o legado de Zumbi, sua esposa Dandara e os negros e negras que resistiram no Quilombo dos Palmares, considero importante refletir sobre o movimento espontâneo que tomou proporções planetárias, unindo negros, brancos, anônimos e famosos em torno da bandeira antirracista. É impossível não traçar um paralelo entre a morte de George Floyd e as mortes violentas, diárias, de jovens negros no Brasil. A pergunta que fica é: por que a sociedade brasileira como um todo não demonstra a mesma indignação, com a mesma intensidade, diante do assassinato sistemático da população negra e pobre?
A resposta para essa pergunta é mais complexa do que pode parecer, mas um fator é determinante e incontornável: o racismo no Brasil ainda é muito forte e possui raízes profundas, estruturais, cruéis.
O racismo à brasileira pode até enganar os menos atentos. Quem observa o dia a dia de nossas cidades pode ser levado a crer que exercitamos o convívio harmônico e a tolerância. Sabemos que não é assim. Quem é preto no Brasil ainda carrega nas costas, desde o berço, o peso dos mais de 300 anos de escravidão no País. O peso do preconceito e da desigualdade de oportunidades.
É verdade que houve avanços nos últimos anos em função de políticas inclusivas. Para citar apenas um dado: em 2019, pela primeira vez na História, o número de negros entre 18 e 24 anos matriculados em Universidades públicas ultrapassou o número de brancos de acordo com a pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, feita pelo IBGE com base na Pnad Contínua. A alegria que esse dado nos traz, no entanto, cai por terra quando a mesma pesquisa mostra que os pretos ocupam menos de 30% dos cargos gerenciais em empresas enquanto os brancos são quase 70%, ou quando vemos que a taxa de homicídios de negros por 100 mil jovens entre 15 e 29 anos é de 185 contra 63,5 de brancos, quase três vezes mais.
Os números apenas traduzem o que pretos e pardos sentem diariamente nas ruas, nos espaços de trabalho e nas esferas de poder das grandes, médias e pequenas cidades Brasil afora. Por isso é tão importante falar sobre esse tema, encarar de frente e com coragem o nosso racismo estrutural. Aproveitar toda oportunidade para expor comportamentos racistas e denunciá-los. Fazer valer na prática a frase que tomou conta do mundo e reafirmar que, sim, “vidas negras importam”! Viva Zumbi, viva Dandara e viva o ideal de liberdade!
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ótimo conteúdo.
Desejo-lhes sucesso.